RICARDO MOTTA PINTO COELHO


PROJETO 1


Curva logística

Um dos modelos de crescimento mais importantes em Ecologia de Populações, trata-se do modelo logístico de crescimento populacional. Ele é também chamado de densidade-dependente uma vez que a taxa de crescimento em um determinado instante depende do número de indivíduos existente na população. Para maiores informações sobre a teoria e aplicações do modelo, recomendamos uma leitura do capítulo 1 (pag. 21) do livro Fundamentos em Ecologia.

Consideremos uma situação formada por duas populações de organismos zooplanctônicos. Colocamos em dois béqueres 3 fêmeas partenogenéticas grávidas de um microcrustáceo cladócero em condições ideais de alimentação, temperatura, aeração e iluminção e ausência de predadores. Essas duas populações cresceram muito bem atigindo respectivamente 650 e 825 indivíduos aos 24 dias.

Tabela: Abundâncias totais (número de indivíduos por litro) de duas populações de cladóceros (Daphnia laevis) em experimentos de laboratório.
Dias (t) População "A" (Nt) População "B" (Nt)
1 3,0000 3,0000
2 7,0000 4,0000
3 10,0000 16,0000
4 9,0000 18,0000
5 39,0000 25,0000
6 39,0000 49,0000
7 40,0000 51,0000
8 113,0000 136,0000
9 180,0000 156,0000
10 240,0000 267,0000
11 390,0000 301,0000
12 480,0000 444,0000
13 510,0000 501,0000
14 630,0000 650,0000
15 638,0000 630,0000
16 628,0000 730,0000
17 666,0000 734,0000
18 668,0000 777,0000
19 620,0000 758,0000
20 663,0000 780,0000
21 667,0000 771,0000
22 645,0000 812,0000
23 690,0000 799,0000
24 650,0000 825,0000


Para se determinar se estas populações se enquandram no modelo logístico de crescimento, devemos fazer um ajuste não-linear a esse modelo. Existem várias formas de se fazer esse ajuste (veja uma delas na página 27 do livro). Entretanto, a maneira mais fácil de se fazer isso, é através de um bom pacote estatístico ou aplicativo gráfico-científico. Um dos melhores aplicativos, nesse sentido, é o pacote Sigmaplot versão 2000, que vamos usar a seguir. Usaremos a rotina de regressão não-linear que é facilmente acessada no menu "statistics" e "regression wizard". O pacote dispõe de pelo menos 13 tipos diferentes de equações sigmóides, incluindo dois tipos de equações logísticas que poderiam ser usadas para fazer tal ajuste. Mas, para nos mantermos fiel a notação usada em nosso livro, optamos por usar a mesma equação que está na página 27 de nosso livro:





onde:

Nt é o número de indivíduos, a, µ e K são parâmetros do modelo, sendo µ a taxa instantânea de crescimento máximo, ou potencial biótico da espécie e K que é a capacidade de suporte do meio. O parâmetro "a" é uma constante de integração. Através da opção "user defined equation" onde iremos entrar com todos os dados necessários para tal ajuste.

Teremos então que cumprir as seguintes etapas:

A) digitar os valores de t(tempo) e número de indívíduos (Nt) em duas colunas diferentes na planilha de dados do programa e salvar o arquivo.

B) Definir qual a equação que reflete o modelo a ser usado (ver equação acima).

C) Estabelecer os valores iniciais de todos os parâmetros do modelo.

D) Estabelcer os valores de outros parâmetros acessórios exigidos pela rotina

Após essas etapas iniciais, vamos agora realizar o ajuste ao modelo logístico para as duas populações acima.


População A

Após abrir o programa Sigmaplot 2000 e recuperar o arquivo contendo os dados já digitalizados, ir ao menu "statistics" e escolher a opção "regression wizard". Escolher a opção "user defined equation". Inicialmente o programa solicita a definição das colunas da planilha onde estão dos dados. Os dados do tempo (x) estão na coluna (1) e os dados dos números de indivíduos da população A estão na coluna (2). Essas informações são digitadas na janela "variables", a seguir:

[Variables]

x = col(1)

y = col(2)

A seguir, temos que informar os valores iniciais de todos os três parâmetros do modelo que escolhemos, ou seja, "a" (constante relativa a integração da curva),"µ" (taxa instantânea máxima ou potencial biótico) e "K" (capacidade de suporte). Não sabemos obviamente os valores exatos desses parâmetros, mas podemos fornecer valores que nos pareçam lógicos ou que venham da literatura, por exemplo. O " regression wizard " do programa SIGMAPLOT 2000 abre uma janela especial, "parameters" somente para a entrada dos parâmetros:

[Parameters]
a 1
µ 0,01
K 200


Em seguida, devemos novamente reescrever no local apropriado, na janela "equation" do programa, a equação acima porém com a notação específica do programa SIGMAPLOT 2000:

[Equation]

f = K/ (1+ exp (a- µ*x))

fit f to y

A seguir, temos ainda que fornecer dados adicionais em duas janelas A primeira janela refere-se a limitações de cálculo eventualmente necessárias:

[Constraints]

o nosso modelo não possui qualquer limitação.

A última janela refere-se à janela de opções:

[Options]

tolerance 0,000100
stepsize 100
iterations 100


Os parâmetros acima fornecem o limite e a precisão dos cálculos a serem efetivados. Em modelos complexos com convergência muito demorada, tais parâmetros são de grande utilidade e praticidade. Após termos digitado todas essas informações podemos então "rodar" a rotina de cálculo. Após a convergência da curva, temos então os seguintes resultados:

Ajuste da Curva para a População A

A primeira coisa que temos que observar é se o modelo realmente foi capaz de explicar a variabilidade do conjunto de dados. Isso pode ser facilmente observado através da estatística R2. No presente caso tivemos uma excelente aderência do modelo aos dados fornecidos, com um R2 de quase 100% (0,99999999).

Poder da Regressão

R = 0,99999999 R2 = 0,99999999 Adj R2= 0,99999999

Standard Error of Estimate = 0,0314



Estimativas dos Parâmetros

A seguir, o programa nos fornece as estimativas de cada um dos três parâmetros do modelo, ou seja, os coeficientes a,µ e K. Essas estimativas vêm acompanhadas do erro padrão, a estatística t e a probabilidade de que essa estatística seja ou não siginicativa. Em nosso exemplo, as três estatísticas foram significativas.

Coef. valor Erro padrão Estatística "t" Probabilidade "P"
a 7,2104 0,0007 11034,1588 <0,0001
µ 0,6800 0,0001 10846,4006 <0,0001
K 665,0046 0,0108 61807,5241 <0,0001




Análise de Variância (ANOVA):

Após observarmos as estatísticas R2 e as estimativas dos parâmetros do modelo, paasamos a observar os resultados da análise de variância. Trata-se de um modelo linear que compara o modelo de regressão adotado com o erro ou resíduo existente nos dados empíricos acima apresentados. A ANOVA calcula uma série de estatísticas para cada um dos dois tratamentos, ou seja, o tratamento regressão e o tratamento erro. Essas estatísticas estão em cada uma das linhas das tabela abaixo. A ANOVA compara o poder desses dois tratamentos em explicar a variância dos dados. Isso é feito através do cálculo da soma dos quadrados (SS). O objetivo final da análise é o cálculo da estatística F que é obtida a aprtir da tabela abaixo:

DF SS MS F P
Regressão 2 1937487,6126 968743,8063 982497010,1421 <0,0001
Resíduo (erro) 21 0,0207 0,0010
Total 23 1937487,6333 84238,5928


Onde: DF= graus de liberdade, SS= soma dos quadrados mínimos, MS= (SS/DF), F= (MF reg/MS Res), P= probabilidade de que a estatística F seja significativa. A probabilidade nesse caso é indica que temos 99,99% de chance de que o modelo seja significativo. Podemos observar que o valor de F foi muito elevado e significativo, ou seja, que o tratamento regressão (modelo logístico) realmente explicou a maior porção da variância dos dados empíricos.



Estatísticas de suporte à ANOVA

As estatísticas abaixo são de suporte a análise de variância. As mais importantes referem-se ao teste de normalidade (distribuição normal dos dados) e o teste da variância para se verificar se a variância é constante. A análise de variância (ANOVA) é muito poderosa, porém exige que os dados tenham distribuição normal e que a variância das médias seja constante.

PRESS = 0,0287

Durbin-Watson Statistic = 2,2645

Normality Test: Passed (P = 0,3259)

Constant Variance Test: Passed (P = 0,9400)

Power of performed test with alpha = 0,0500: 1,0000

Gráfico

Finalmente apresentamos um gráfico com os valores experimentais e da curva justada. Podemos observar facilmente que o nosso modelo apresenta uma alta aderência aos pontos observados.




Ajuste da Curva para a População B

O ajuste não-linear para os dados da população B obteve os seguintes resultados

[Nonlinear Regression]

[Variables]

x = col(1)

y = col(3)

[Parameters]
a 1
µ 0,01
K 200

[Equation]

f = K/ (1+ exp (a- r*x))

fit f to y

[Constraints]

[Options]
tolerance 0,000100
stepsize 100
iterations 100


Poder da Regressão

R = 0,99814230 Rsqr = 0,99628805 Adj Rsqr = 0,99593453

Standard Error of Estimate = 21,2020

Estimativas dos Parâmetros
Coef. valor erro padrão t P
a 5,6969 0,2572 22,1454 <0,0001
µ 0,4861 0,0230 21,0932 <0,0001
K 801,8288 9,1185 87,9338 <0,0001




Estatísticas da ANOVA
DF SS MS F P
Regressão 2 2533703,9419 1266851,9709 2818,2039 <0,0001
Resíduo 21 9440,0165 449,5246
Total 23 2543143,9583 110571,4764

Onde: DF= graus de liberdade, SS= soma dos quadrados, MS= (SS/DF), F= (MF reg/MS Resl), P= probabilidade de rejeitar a estatística F. A probabilidade nesse caso indica que temos 99,99% de chance de que a estatística F seja realmente siginificativa, ou seja, o modelo logístico explica quase a totalidade da variância observada.

Estatísticas de suporte à ANOVA

PRESS = 13949,7512

Durbin-Watson Statistic = 3,3338

Normality Test: Passed (P = 0,7440)

Constant Variance Test: Passed (P = 0,1082)

Power of performed test with alpha = 0,0500: 1,0000

A figura contendo a equação logística ajustada e os pontos experimentais da população B.





Sugestões para fixação dos conceitos

Mesmo que o aluno não disponha do programa Sigmaplot, gostaríamos de sugerir algumas atividades que o ajudarão a fixar os conceitos aqui apresentados. Em primeiro lugar, plotar os dados experimentais utilizando uma planilha convencional, MS-excel, por exemplo. Depois programar a curva ajustada aqui, calcular os valores da curva para cada dia e plotar novamente as figuras exatamente como nos dois casos acima. A planilha do excel permite realizar isso com relativa facilidade. Fazer pequenas alterações nos dados empíricos e plotar novamente os dados para observar as diferenças. Finalmente, pesquisar na literatura de suporte em que casos o modelo logístico tem sido usado com sucesso.



PORTAL RMPC


Página criada por Ricardo Motta Pinto Coelho
25 de junho de 2001
Dept. Ssciences biologiques
Univ. Montreal, QC, Canada.
Ultima atualização: 31/10/2016